Nos EUA, o diretor-geral da FICS Ismael Fenner muda nome no registro norte americano de FICS para UICS, e segue captando alunos via redes sociais e WhatsApp com código de área do Rio de Janeiro.
O diretor-geral da FICS, Ismael Fenner, registrou em 2023, na Flórida, Estados Unidos, a empresa Universidad Interamericana de Ciencias Sociales (UICS LLC). Apresentada em seu site como Interamerican University of Social Sciences (IUSS), a organização exibe um ícone para atendimento por WhatsApp, mas o número é brasileiro, registrado no Rio de Janeiro.
A estratégia repete práticas já identificadas em investigações no Brasil: dar aparência de legitimidade a esquemas de venda de diplomas de mestrado e doutorado sem validade acadêmica.
Segundo o delegado da Polícia Civil da Paraíba, Francisco Iasley Lopes de Almeida, o sistema de fraudes “foi se aprimorando e migrando para os Estados Unidos para gerar mais credibilidade”. Ele concedeu entrevista ao Extra Classe em uma série de reportagens sobre o tema.
Apenas uma empresa limitada
Levantamento nos registros empresariais da Flórida identificou o ato constitutivo da UICS LLC, aberta por Fenner em setembro de 2023. Escritórios de contabilidade que atuam nos EUA explicam: trata-se apenas de uma Limited Liability Company (LLC), modelo societário comum por sua flexibilidade tributária e simplicidade burocrática. Não há qualquer reconhecimento educacional envolvido.
No objeto social da UICS consta “qualquer negócio lícito” (any and all lawful business). O responsável legal é o escritório Matrix Registered Agents LLC, que recebe comunicações oficiais e citações judiciais. Além de Fenner, aparece como gestora da suposta universidade Olga M. Miranda Díaz.
A plataforma Sunbiz, sistema oficial de registro empresarial do estado da Flórida, confirma a inscrição da UICS como LLC. Mas o truque de marketing é evidente: a troca da letra “F” de Faculdade por “U” de Universidade. Assim, a FICS paraguaia ganha, pelo menos no nome, um status que não possui.
O problema é que esse registro não significa credenciamento acadêmico. A mesma inscrição poderia ser usada para abrir um bar ou um sindicato.
Oferta irregular de cursos
Apesar disso, o site da UICS anuncia programas de mestrado e doutorado, sugerindo estar apta a funcionar como universidade. Ocorre que, na Flórida, o processo de licenciamento e credenciamento de instituições de ensino superior pode durar de cinco a seis anos e envolve requisitos rigorosos, como catálogo institucional, créditos acadêmicos no padrão americano, políticas de reembolso, regimentos internos e contatos oficiais do Departamento de Educação do estado.
Nada disso aparece no site da UICS. Um detalhe reforça as suspeitas: mesmo na versão em inglês, o WhatsApp indicado continua vinculado a um número no Rio de Janeiro.
Estratégia de fachada
Especialistas apontam que registrar empresas nos EUA é uma forma de criar um “histórico de existência”, que futuramente pode ser usado como suposta prova de legitimidade acadêmica.
“Eles vão tentar usar o Sunbiz como se fosse legitimidade acadêmica. Mas isso não tem valor algum no âmbito da educação”, afirmou ao Extra Classe uma profissional da área de acreditação.
Nas redes sociais, a UICS tenta construir credibilidade. Seu perfil no Instagram foi criado em outubro de 2023 e publica regularmente conteúdos de marketing. Em 8 de setembro de 2025, divulgou:
“Leve sua Carreira ao Próximo Nível: Mestrado e Doutorado no Exterior! Já pensou em se tornar uma referência na sua área e impulsionar sua carreira exponencialmente? Cursos de Mestrado e Doutorado no exterior são o caminho para transformar seu futuro profissional. Mais do que um título, é uma jornada de crescimento”.
A movimentação mostra uma tentativa de consolidar rapidamente uma imagem institucional, em contraste com a realidade de que a empresa não possui licença educacional.
Continuidade do golpe
Para o delegado Iasley, a criação da UICS é apenas a evolução do golpe já investigado no Brasil. A FICS, sediada no Paraguai, é apontada pela Polícia Federal como uma das principais responsáveis pela venda de diplomas falsos de mestrado e doutorado no país.
Com o aumento da fiscalização, os responsáveis teriam migrado a operação para os EUA em busca de credibilidade.
“Começou com ‘universidades’ sul-americanas e depois buscou se sofisticar levando a etiqueta de uma suposta credibilidade dos Estados Unidos para continuar o mesmo golpe”, afirma Iasley.
O Extra Classe procurou nesta quarta-feira, 10, a assessoria de imprensa da FICS no Brasil para comentar a relação com a UICS, a legalidade dos cursos ofertados e as autorizações para funcionar como instituição de ensino nos EUA. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.
Fonte: www.extraclasse.org.br

