Uso prolongado do medicamento pode causar deficiência de nutrientes e outros efeitos adversos; especialistas explicam quando ele é necessário e quando há alternativas seguras.
Durante décadas, o omeprazol foi sinônimo de protetor gástrico e parecia inofensivo — um comprimido que muita gente tomava todos os dias antes do café da manhã. Mas o entendimento médico sobre ele mudou.
Assim como outros remédios do mesmo grupo, o medicamento interfere na acidez do estômago e no funcionamento do corpo.
“A tendência atual é evitar o uso desnecessário”, explica Débora Poli, médica gastroenterologista do Hospital Sírio-Libanês.
O que é e por que pode ser problemático
Esses medicamentos pertencem à classe dos inibidores da bomba de prótons (IBPs) — fármacos que reduzem a produção de ácido no estômago. Além do omeprazol, fazem parte da categoria o pantoprazol, esomeprazol e lansoprazol e similares. Embora eficazes, eles deixaram de ser vistos como soluções sem risco.
Quando foi lançado, o omeprazol representou um marco no tratamento de úlceras e refluxo.
O alerta não é novo, mas ganhou força com estudos recentes. Segundo a gastroenterologista da Clínica Sartor e membro titular da Federação Brasileira de Gastroenterologia Karoline Soares Garcia, o uso prolongado do omeprazol pode reduzir a absorção de micronutrientes como ferro, magnésio, cálcio e vitamina B12. A carência desses nutrientes pode causar anemia, fadiga, cãibras e osteopenia.
Aumenta, ainda, o risco de infecção intestinal por Clostridioides difficile, uma bactéria que pode causar diarreia grave. Além disso, incentiva o supercrescimento bacteriano no intestino delgado (SIBO) e, segundo estudos observacionais, pode estar relacionado a doença renal crônica e fraturas.
Quando o uso é realmente indicado
Apesar das restrições, os especialistas reforçam que o omeprazol continua sendo essencial em vários casos. “Ele tem papel importante no tratamento de refluxo gastroesofágico, gastrite, úlceras e infecção por Helicobacter pylori. Ainda é uma medicação de baixo custo e de grande utilidade”, explica Poli.
Há pacientes que precisam usar continuamente — como quem tem esôfago de Barrett, esofagite eosinofílica ou necessidade de gastroproteção por uso crônico de anti-inflamatórios.
Quem pode trocar por novas opções
Embora essencial em alguns casos, nem todos os pacientes precisam seguir com o omeprazol. Os médicos ressaltam que pessoas com sintomas leves, refluxo intermitente ou sem lesão visível no esôfago podem migrar para tratamentos mais brandos.
Esses bloqueadores agem de modo diferente — atuam nos receptores de histamina no estômago — e, embora sejam menos potentes, provocam menos efeitos adversos a longo prazo.
Há ainda opções mais recentes, como os P-CABs (bloqueadores de potássio) — caso da vonoprazana, que tem ação rápida e duradoura. “Ela pode ser uma alternativa em pacientes que não respondem bem aos IBPs, mas ainda é cara e pouco disponível no Brasil”, observa Brandão.
A decisão de prescrever, de cortar ou de substituir o omeprazol deve ser tomada por um médico, e nunca sem supervisão.
Mudanças no estilo de vida fazem diferença
Poli reforça que a rotina alimentar também conta: “Comer devagar, mastigar bem e respeitar os horários das refeições pode ser tão eficaz quanto o medicamento em quadros leves”.
Um novo olhar sobre um velho remédio
Para os médicos, o movimento de “cortar o omeprazol” não é uma campanha contra o remédio, e sim uma tentativa de devolver o uso racional a um medicamento que foi, por muito tempo, usado sem critério.
Fonte: g1.com

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