O Supremo Tribunal Federal condenou na quinta-feira (11/9) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus por golpe de Estado.
Bolsonaro já cumpre prisão domiciliar, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes nos autos do inquérito que apura a conduta do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pelos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação da chamada trama golpista e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
O ex-presidente também está inelegível até 2030, condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação.
Ainda assim, Bolsonaro e seus aliados têm afirmado que o ex-presidente será candidato à Presidência no próximo ano. Ao mesmo tempo, Bolsonaro condiciona seu apoio a outra candidatura a uma anistia ou indulto a si próprio, deixando o campo da direita embolado a um ano da eleição.
Para Christian Lynch, professor e pesquisador em Direito, Ciência Política e História do Instituto de Estudos Políticos e Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), não há interesse dos políticos do chamado centrão em apoiar Bolsonaro.
“Os políticos não querem Bolsonaro porque os políticos, no fundo, não confiam em Bolsonaro, porque Bolsonaro nunca confiou neles”, afirmou, em entrevista à BBC News Brasil.
Por isso, de acordo com Lynch, apenas a família de Bolsonaro quer realmente tirá-lo da inelegibilidade. E, mesmo sabendo disso, diz o professor, o ex-presidente só vai renunciar de uma candidatura na última hora, para “elevar o preço da transferência ao valor mais astronômico possível”.
Confira os principais trechos da entrevista.
BBC News Brasil – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) radicalizou o discurso durante a manifestação de 7 de setembro na avenida Paulista, criticando a “tirania” do ministro Alexandre de Moraes. Isso já era um reflexo do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal?
Christian Lynch – O problema do Tarcísio é que ele tem que resolver se vai ser candidato à Presidência, como quer o centrão, ou se vai se candidatar à reeleição em São Paulo.
Ele acha que a reeleição em São Paulo está relativamente garantida. Então ele só vai ser candidato à Presidência da República se ele achar que tem realmente chances de vitória.
E para ter chance de vitória, ele precisa do apoio do miolo direitista do centrão, o que significa que não basta ter apoio da extrema direita do PL. Tem que ter apoio da base do centrão que apoiou o Bolsonaro: União Brasil, Progressistas, Republicanos, não esse centrão que é uma centro-direita, que é o MDB e o PSD.
Ele recebeu uma sinalização do centrão de que o centrão topa ir com ele. Mas existe uma percepção generalizada de que, para ele ter chance de vitória, ele tem que ir ungido por Bolsonaro, o que também significa ser ungido por Silas Malafaia.
Esse projeto do Tarcísio encontra alguns obstáculos, que são os concorrentes: [Ronaldo] Caiado [governador de Goiás pelo União Brasil], [Romeu] Zema [governador de Minas Gerais pelo Novo], Ratinho [Junior, governador do Paraná pelo PSD].
E tem os obstáculos mais complicados, que são os herdeiros do Bolsonaro: Carlos, Eduardo e a esposa Michelle. A Michelle não é das primeiras [escolhas], porque Bolsonaro só confia nos próprios genes. Mas a preocupação da família Bolsonaro é perder o domínio da direita, porque eles sabem que, no momento em que Bolsonaro apoiar Tarcísio, e Tarcísio disser ‘sou eu’ [o candidato], se Tarcísio vencer, eles [os Bolsonaro] estão liquidados. Acabou a família Bolsonaro.
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História de
Disponível na íntegra em BBC News

